Meu pé de valsa


       Eu sempre gostei de namorar. Desde o fundamental adorava me apaixonar, escrever cartinhas, ficar de paquera. Sempre gostei de ter alguém para dar e demonstrar carinho, mas desde essa época as coisas comigo sempre foram 8 ou 80: ou está bom pra mim ou pé na bunda. Não que eu não tentasse, ao contrário, eu fazia de tudo para dar certo, mas sempre que meu sensor de temperatura atingia o limite máximo de paciência, o romance fundia. 
       Com o passar das experiências é natural colocarmos filtros na hora de decidir entrar em uma nova relação: morar perto, não ter saído de uma relação recentemente, ter pelo menos x anos a mais do que você, ter gosto musical parecido, ser alto, baixo, bem humorado, centrado, enfim, as possibilidades são muitas, e um dos meus filtros para um novo relacionamento sempre foi que o parceiro soubesse e gostasse de dançar. Não apenas para ter um parceiro em festas, mas dançar, aos meus olhos, sempre foi um movimento de expressão de liberdade, de sentimentos, de extravasar a felicidade dentro de mim. Desde as festinhas de escola eu era a primeira a entrar na pista de dança e a última a sair — mesmo que acabada — e ter alguém para dividir esse momento comigo, ou que pelo menos não o estragasse, era especial. Confesso que outras coisas sempre se sobrepuseram à isso e eu nunca tinha encontrado alguém à altura da minha vontade de me divertir dançando, ou seja, esse filtro nunca funcionava. 
       Então aconteceu que no último final de semana eu dancei! Eu dancei MUITO! Dancei funk, dancei sertanejo, forró, sambei, pagodeei, rebolei, desci até o chão, voltei, dancei de rosto colado, dancei separado, pulei, dei a volta no salão, fui do Nenhum de Nós ao Bonde do Tigrão! Meu par não deixou à desejar um segundo sequer! Na verdade, até quando eu estava dando uma pausa para recuperar o fôlego ele me puxava de novo. Nós não nos acabamos de dançar. Mas dançamos o suficiente para deitar na cama e dizer “Caramba, a gente dançou hein!?!” Olha, eu não estou dizendo que devemos encontrar alguém que seja um pé de valsa, que ame dançar e seja obrigado a nos acompanhar só porque gostamos, isso é um detalhe no todo. Mas, depois desse final de semana com muita dança no salão, na frente da churrasqueira, na cozinha, na sala, no quarto, eu entendi que aquele ‘Filtro de dançar’ era a minha necessidade de estar ao lado de alguém que me olhe dançando (mesmo sem dançar) e não fique fazendo cara feia, desconfortável, olhando o relógio querendo ir embora, incomodado com a minha felicidade em ser eu mesma. Troquei o nome do filtro para ‘Alguém que tenha a mesma energia que eu’, e dessa vez funcionou.