Está tudo bem em não estar bem

 

       Há quase quatro anos passei por um período depressivo e nem entendi o que estava acontecendo. Achei que era só cansaço mental, estresse no trabalho, falta de vontade pra vida. Mas “só” isso. Com a super sensibilidade do meu gestor na época, em entender que algo de errado estava me acontecendo, tirei 1 mês de férias. E passei 30 dias na cama, olhando pro teto, num calor esgotante de dezembro. Tomava banho ao final do dia para minha mãe chegar em casa e não perguntar por que causa, motivo, razão ou circunstância eu ainda não tinha saído da cama. Eu não tinha vontade de NADA: me maquiar, ver gente, tomar banho, pentear os cabelos, fazer exercícios, olhar a tv, estudar, comer, sair de casa, ler, dialogar com as pessoas, e tudo, absolutamente tudo me irritava com facilidade, além da vontade de chorar por qualquer coisa. Mas não queria falar sobre isso com ninguém, na verdade eu não conseguia verbalizar que algo estava errado comigo, ficava pensando nos problemas de mais que os outros ao meu redor já tinham. Como é que eu vou preocupá-los com algo que eu mal sei explicar o que é?! Com eu vou dizer “Olha, eu sei lá, acho que não estou com vontade das coisas, eu não estou bem”. É difícil conseguir verbalizar “EU PRECISO DE AJUDA”. Mas, hoje, agora, eu entendo que está tudo bem em não estar bem.

       Na época mudei de área no trabalho, outro semestre na faculdade, novos amigos, novos desafios, ganhei um up emocional com algumas novidades que foram fazendo minha mente se alinhar sozinha. Ufa, passou! Mas então, em julho do ano passado perdi minha avó, e me encontrei descendo a mesma ladeira rápida para o isolamento, irritabilidade, ultra sensibilidade, choros compulsivos, vontade de nada nem ninguém, mas pela primeira vez consegui verbalizar “EU NÃO ESTOU BEM, EU PRECISO DE AJUDA”. Mesmo conseguindo verbalizar, entre desmarcações e falsos compromissos importantíssimos nos dias das consultas, eu demorei 2 meses para conseguir ir a uma psicóloga. Ela, sabiamente, me encaminhou para o psiquiatra. Demorei um mês para criar coragem e começar a tomar o antidepressivo receitado. Até isto eu estava procrastinando. Comecei o tratamento e, entre efeitos colaterais, choros e crises de ansiedade as coisas foram se ajeitando. Até que eu, “sabiamente”, achei que estava tudo bem. Eu estava feliz, novos desafios, novo estado, novo tudo, zero crise de ansiedade ou choros compulsivos, não precisava mais de medicação. Então...

       Após quase dois meses sem medicamento a irritabilidade voltou com força level hard, aguente quem puder! Os choros compulsivos não bateram à porta e foram logo entrando, a ansiedade chegou devorando toda a geladeira aqui de casa e a seção de chocolates do Walmart. Era hora de pedir ajuda, de novo.

       Volta o cão arrependido... Bom, voltei meu tratamento com antidepressivos há 2 dias. Estou tomando remédio para me ajudar a não ter crises de ansiedade antes de deitar para dormir. E sei que com tratamento psicotrópico e terapêutico, em algumas semaninhas estarei linda, leve, radiante, sorridente, e cheia de disposição, como sempre. E, sério, está/estará tudo bem comigo. O que antigamente se chamava “frescura”, hoje é conhecido como tratamento da saúde mental. E que bom que existe isso, né?!

       Enfim, eu pensei muito antes de expor tudo isso, e, como futura psicóloga, eu me vejo no dever de mostrar, com minha própria experiência, que ESTÁ TUDO BEM EM NÃO ESTAR BEM. Que nem sempre a gente vai saber como verbalizar isso e que não é problema nenhum buscar ajuda. Nas redes sociais as pessoas parecem sempre tão saudáveis mentalmente, estão sempre felizes, postando frases motivadoras, comendo coisas lindas aos olhos, viajando para lugares maravilhosos, agradecendo ao Sol no final do dia, quando na verdade, elas também têm problemas. E ESTÁ TUDO BEM EM NÃO ESTAR BEM. Algumas com problemas a mais, outros a menos, algumas com tristeza que passa, outras com tristeza que fica. E quando ficar, procure ajuda: seja num amigo, no exercício físico, na escrita, na fé, na música, e se possível (e de preferência) até mesmo num psicólogo/psiquiatra. Às vezes é mesmo difícil entender pelo o que estamos passando, e mais difícil ainda é verbalizar isso e buscar ajuda. Mas lembre: somos seres humanos, não somos perfeitos, não somos felizes o tempo inteiro como as redes sociais podem aparentar, não conseguimos estar saudáveis mentalmente todos os dias de nossas vidas, e é natural e necessário buscarmos ajuda para reordenar a nossa mente, nos entendermos, nos libertarmos de frustrações, decepções, e sentimentos ruins, quando entendermos que é necessário.

       Está tudo bem em não estar bem.