Eles nos medem com a régua deles


        Aos 17 anos comecei a trabalhar e já no meu primeiro emprego encontrei um cara engraçado, inteligente, culto, muito ligado em tudo o que estava acontecendo (antenado, sabe?), generoso, honesto, as vezes pavio curto mas que sorria com os olhos de uma forma que eu nem sei explicar! Para a minha sorte ele era meu gestor. Todos os dias eu ia trabalhar segura, pois sabia que qualquer que fosse o desafio no trabalho poderia contar com ele. Se ele não soubesse como resolver, saberia ao menos quem contatar. Ele era referência até quando o assunto era buscar alguém de referência. Ele era um dos meus maiores exemplos como profissional e como pessoa. Surgia ali minha primeira admiração.
        Algumas pessoas me inspiram diariamente, como por exemplo a escritora Martha Medeiros, que tive o prazer de conhecer e ter um livro autografado com um recado de "Vamos tomar um café hora dessas". Com o passar do tempo fui entendendo que aquilo que eu sentia e sinto por esse gestor assim como pela Martha, aquele desejo de ser como aquela pessoa ou fazer com que suas atitudes me movessem positivamente era admiração.
        Dia desses tive o privilégio de tomar um chá com um jovem senhor, o qual cada vez que vejo tenho muita vontade de abraçá-lo. Confesso que já disse para minha mãe que gostaria que ele fosse meu avô, só para ficar escutando suas histórias num domingo à tarde, tomando chimarrão e comendo bolinho de chuva - assim, sem compromisso mesmo. Ele é daquele tipo de pessoa que eu gosto: que sorri com os olhos e que mostra o coração nas palavras. Nessa mesma manhã de julho gelada ele me disse "Ingrid, eles nos medem com a régua deles". Um gênio! Palmas! Como é que eu não havia escutado isso antes? Só poderia ter vindo dele. Na ocasião falávamos sobre pessoas corruptas que se assustaram ao oferecer cargo, salário e bens à uma pessoa honesta, que recusou as "oportunidades". 
        Quando falamos sobre empatia só entendemos por completo o que o outro está sentindo quando já passamos pela mesma situação. Quando estamos sentindo dor - e aí geralmente só enxergamos à nós mesmos -  também julgamos apenas pelo o que estamos sentindo. Assim é também como quando contamos uma notícia feliz para alguém e esperamos que essa pessoa fique feliz na mesma medida que nós. A vida, de um modo geral, é assim: medimos o outro com a nossa régua. Criamos expectativas e até nos frustamos porque estamos olhando o outro a partir da nossa perspectiva, dos nossos pensamentos e construções. É mais ou menos assim: "a gente dá o que a gente tem".
        Era uma manhã gelada de julho, com um chá bem quente, eu estava feliz por ter a oportunidade daquela conversa, mas tentando entender o que me fazia sorrir cada vez que encontrava aquele jovem-senhor. Demorou a cair a ficha: era a tal da admiração batendo à minha porta de novo.