Se entregue

      Há uns meses atrás eu estava muito triste por não ter um emprego fixo, de carteira assinada, por não ter uma rotina como tinha há alguns anos atrás. Acordava cedo, tomava um banho para despertar, entre um gole de café um delineado feito no olho, entre um jato de secador nos cabelos uma mordida no pão. Salto alto, roupas bonitas (nem sempre), e às 9 horas eu me achava uma pessoa importante.
Após duas promoções e duas propostas de mais uma promoção (em uma equipe que me queria muito) eu desisti do meu emprego, eu fui morar em outro estado numa tentativa falida de viver um grande amor, eu voltei, eu tive que trancar a faculdade, eu não vejo mais cerca de 50, ou 100 pessoas por dia, ou respondo e-mails importantes, ou levo uma pauta importante para uma reunião com uma equipe de 20 pessoas... 
       Agora eu trabalho de free lancer em algo que eu aprendi de metida, olhando alguns vídeos na internet, depois de baixar uns 100 (ou mais) aplicativos no meu celular e procurando inspiração no Instagram, Google ou em documentários na Netflix que falassem sobre mídias sociais, marketing e afins...  
       Dia desses, chateada, refletindo sobre tudo isso, entrei no carro com meu irmão, Eduardo, e ele disse "A mana é inteligente pra caramba! As empresas estão perdendo muito por a Ingrid estar em casa". Isso me marcou profundamente. Hoje, um dia em que eu achei que não iria dar conta de tudo, que na verdade o que eu estava fazendo era algo simples, banal, e que não transformaria a vida de ninguém, eu lembrei da frase dele. E de como eu sempre amei fazer qualquer coisa que eu me dispusesse a fazer. Fosse no marketing, fosse explicando para alguém como funcionava a ISO 9001 e como medir um indicador, ou simplesmente ensinando alguém a como cuidar de uma flor. 
        A questão nunca é o que você faz. Mas como você faz. Como diria meu professor de Contabilidade I na faculdade de Administração (que eu tranquei) "Se der um chute no mato vai brotar administrador". Mas a verdade meu amigo é que não existe emprego dos sonhos, ou posição em que você é insubstituível, ou questão em que você é único e essencial. A questão é COMO você faz qualquer coisa que você faça. E eu sempre fui boa em fazer qualquer coisa que eu realmente quisesse fazer. E não estou falando somente sobre emprego. Estou falando sobre cuidar do seu parceiro, dos seus filhos, estou falando sobre fazer um almoço para quem você ama, sobre um texto de feliz aniversário, sobre orar de verdade, sobre escutar o desabafo de alguém, sobre tentar entender a doença da pessoa que está se abrindo e falando sobre um problema com você, sobre se entregar no que você se dispõe a fazer.
       No momento, ao ouvir aquela frase do Dudu, eu voltei a me sentir importante pelo o que eu fazia, e achei que deveria voltar a ter um trabalho formal para me sentir assim. Mas hoje vejo que eu continuo sendo importante e boa no que eu faço, independente do que eu faça, desde que eu me entregue nisso. E você deveria fazer o mesmo: se entregar à tudo o que for fazer de verdade porque isso nos enche de coisas boas, e enche quem está ao nosso redor.
        Sabe o que é mais engraçado disso tudo? O Eduardo disse aquela frase, mas nunca me viu trabalhar.